INTRODUÇÃO À VIDA NÃO FASCISTA

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Foucault ficou conhecido por questionar os múltiplos poderes que se exercem no cotidiano da vida social de forma insidiosa, invisível, molecular e sofisticada, e que constituem os saberes. Trinta anos depois do contato com sua extensa obra, não há como negar que nossos olhares se tornaram mais sofisticados e menos ingênuos. Já não aceitamos com aquiescência práticas autoritárias e excludentes, que antes nos escapavam, sobretudo, pela falta de olhar e de linguagem; inúmeros acontecimentos passaram a ser percebidos, abrindo novos temas de pesquisa, reflexão e intervenção crítica. Não há como negar esta evidência: Foucault nos ajudou a construir esse olhar crítico, atento ao imediato, ao que acontece à nossa volta e em nossa própria vida, atento às dimensões que antes eram escamoteadas pelas grandes questões do Estado, da Política, das lutas sociais, miradas com um olhar científico, "acima de qualquer suspeita". Evidentemente, não foi o único, mas sem dúvida alguma, teve uma importância decisiva nesse e em outros deslocamentos teóricos e subjetivos.

Suas críticas e o amplo arsenal conceitual que nos legou apontam para uma ácida e construtiva crítica do presente, a despeito das interpretações mal-humoradas com que foram recebidos. A "ontologia histórica de nossa atualidade", como ele mesmo define o projeto ético-político que construiu, visa estranhar nossas práticas e hábitos cotidianos, nossos modos de pensar, ver, lembrar ou mesmo esquecer, perguntando pelas possibilidades de um ser outro do que se é, de um viver de outro modo e, acima de tudo, de pensar diferentemente. Nessa crítica, entraram em jogo todas as nossas representações, seja as do poder, do espaço, do tempo, do sujeito, da verdade, quanto a maneira exterior pela qual as relacionávamos entre si. Técnica e política, vale lembrar, eram vistas como dimensões que se interligavam, mas não que se constituíam, assim como meios e fins. Na verdade, estamos falando dos saberes e poderes, da ausência do sujeito colocado acima de tudo e exterior à cena, da crise da representação, como no quadro "As meninas", de Velasquez, citado por Foucault, na introdução de As Palavras e as Coisas.

Algo mudou, muito mudou, apesar das permanências. Foucault já não é visto, mesmo pelos que pouco ou mal o lêem, como o pensador da "sociedade carcerária", que não aponta saídas e que é tristemente pessimista. Até mesmo grupos anarquistas reivindicam a filiação de Foucault com o anarquismo clássico ou contemporâneo, apesar de algumas de suas próprias declarações ambíguas, às vezes contrárias, às vezes filiadoras. As feministas, como Judith Butler, por sua vez, publicam inúmeros livros em que avaliam e reconhecem o grande impacto de seu pensamento para a constituição de novas linguagens e formas de interpretar o mundo.

Um Foucault político aos poucos delineou-se para todos nós, que progressivamente nos inteiramos melhor de sua obra, de suas propostas, de suas críticas, com a publicação e tradução dos seus cursos, em vários volumes, mais recentemente. Um Foucault que quis viver libertariamente, que se auto-referiu como um "pirotécnico", capaz de lançar bombas com suas idéias, e que se irritava com as relações de força, inclusive no trânsito, mesmo quando passeava de bicicleta pelas ruas de Paris. Em suas palavras:

E quando saio, encontro um meio de não sonhar: ando de bicicleta, não me desloco sem ela. Esporte maravilhoso em Paris! Mas mesmo assim, há pessoas que circulam de bicicleta e vêem coisas maravilhosas. Parece que a ponte Royal às sete horas da noite, em setembro, quando há pouco de bruma, é extraordinária. Eu não vejo absolutamente isso; luto com os engarrafamentos, com os carros, sempre a relação de forças" (Foucault, M. "Com que sonham os filósofos?". In: Ditos e Escritos,1975).

Dando continuidade a colóquios anteriormente realizados na USP, em 1984 e posteriormente em 1994; na UFRJ, em 1999; no IFCH da UNICAMP, em 2000 e 2004; e em Natal em 2007, propomos a realização do V Colóquio Internacional Michel Foucault, desta vez, em torno do tema: "Por uma vida não fascista". Derivada do prefácio que Foucault escreve ao Anti-Édipo, de Gilles Deleuze, esse texto é um manifesto político libertário. Com seu fino humor e crítica sempre contundente, num estilo poético-político, Foucault nos chega de maneira clara e direta: é preciso viver diferentemente, "não se apaixone pelo poder".

Esse Colóquio visa criar condições para um contato maior entre intelectuais especialistas na obra desse autor, para que possam discutir suas idéias, apresentá-las aos estudantes, pesquisadores e intelectuais interessados e desdobrar temáticas tão importantes no contexto de nosso mundo hoje. Visa possibilitar um aprofundamento das reflexões sobre as diferentes dimensões da obra de Foucault, a partir de trocas frutíferas entre os pesquisadores e a divulgação das produções e das problematizações que o seu pensamento inspirou e tem inspirado. As experiências anteriores revelaram a riqueza desses encontros e a fecundidade de um pensador que continua profundamente atual e ainda desconhecido em grande parte, não só no Brasil.